segunda-feira, 16 de maio de 2011

Na década de 50, casal de arquiteto e urbanista criou as mais belas obras da habitação social do Rio

Dizem que paixão dá e passa, e o amor é algo que se constrói e se mantém como uma casa bem-feita. Ao revisitar a fase de maior qualidade na habitação social no Rio, um discreto casal, que nunca assumiu o romance publicamente, tem de ser citado: o arquiteto Affonso Eduardo Reidy e a urbanista Carmem Portinho, do Departamento de Habitação Popular (DHP), órgão da prefeitura do então Distrito Federal, que atuou de 1948 até 1964. Reidy levou a fama de ter projetado duas joias da arquitetura: o conjunto Marquês de São Vicente, na Gávea, e o Pedregulho, em Benfica, prestes a ser tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. Mas, por trás de seus traços, estava a mão de Carmen, primeira urbanista do país, chefe do DHP e de Reidy, que também projetou o MAM e o Parque do Flamengo.


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- Eles viviam juntos, mas não tocavam no assunto nem em família. Como ela era chefe, os dois não queriam dar margem a comentários - conta a cineasta Ana Maria Magalhães, sobrinha de Carmem, que lançará no segundo semestre o filme "Reidy, a construção da utopia".

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Quase no fim da Segunda Guerra, Carmen viajou para a Inglaterra. E acompanhou de perto as soluções para a habitação na reconstrução das cidades. E o que se vê nos conjuntos de Reidy traz a percepção de Carmen nessa viagem e dos princípios do arquiteto franco-suíço Le Corbusier: o desenho ondulante dos prédios sobre pilotis acompanhando a topografia, a ventilação cruzada dos apartamentos (basta abrir a porta e as janelas para o vento cruzar a casa), pavimentos de uso comum, proximidade dos serviços públicos.

Foi nos corredores iluminados e ventilados do Pedregulho, aliás, que outro romance embalou.

- Conheci Cláudio aqui, aos 13 anos. Casei aos 24. Já moramos numa quitinete do primeiro andar. Agora, estamos num dois quartos no Pedregulho - conta Mônica Costa.

Esse é outro aspecto do conjunto - com 328 apartamentos, 272 no edifício de curva. O Pedregulho tem imóveis de quitinete a quatro quartos, sem falar do paisagismo de Burle Marx e dos painéis de azulejos de Portinari e Anísio Medeiros na escola e na quadra esportiva do conjunto.

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Para Ana Luiza Nobre, professora de história de arquitetura da PUC, a produção do DHP no Rio não deve ser analisada tanto em termos numéricos - não chegam a mil unidades em 16 anos:

- O diferencial está na luta pelo ideal moderno de habitar. Habitação, escola, posto de saúde, mercado, lavanderia: tudo isso era considerado não um privilégio, mas um direito.

Motivos que fizeram a mãe da arquiteta Angela Fontes escolher o Marquês de São Vicente, conhecido como Minhocão da Gávea, para morar, em 1965, depois de passar pelo Pedregulho e pelo Conjunto Getúlio Vargas, em Deodoro.

- Quando ela chegou aqui, não teve dúvidas: tinha duas escolas e o Miguel Couto perto. Chamo o prédio de Minhoca Mares. Com a vantagem para os outros condomínios de aqui você não se sentir só - diz Angela.

A convivência com os vizinhos tem um motivo claro: os corredores servem como varandas no Minhocão, que tem 308 apartamentos no prédio principal - 20 foram demolidos na construção do Túnel Acústico, em 1971.

Corredores longos comos os do Minhocão são os do Getúlio Vargas, em Deodoro, de 1954. Concebido pelo arquiteto Flávio Marinho Rego, indicado por Reidy, o conjunto tem grandes blocos sinuosos, o maior deles com 450 metros de extensão, e 24 blocos laminares (retos).

Se nos conjuntos da década de 50 são as curvas que chamam a atenção, no Nova Maré, da década de 90, perto da Linha Amarela, os cubos se destacam. O arquiteto Demetre Anastassakis se baseou no jogo Lego e fez sequência de encaixes nas casas, que dificultam puxadinhos. O resultado impressiona, embora a falta de conservação das residências tire qualquer espírito infantil do lugar.

Fonte: oglobo.globo.com/rio

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