Fazenda vertical beneficiaria países populosos e com pequena extensão territorial
O cultivo de hortaliças em meio às grandes cidades ajudaria a reduzir a emissão de gases no transporte de alimentos e permitiria a diminuição do uso de herbicidas nas plantações.
Foi no conceito de fazendas verticais que o arquiteto brasileiro Rafael Grinberg Costa encontrou uma solução para a utilização de dois prédios públicos degradados em São Paulo. Costa propôs, em 2009, a criação de fazendas de cultivo baseado na hidroponia nos edifícios São Vito e Mercúrio, localizados no centro da capital paulista.
A iniciativa, entretanto, não saiu do papel. A prefeitura não demonstrou interesse, e os prédios foram demolidos para a construção de um parque.
Costa admite que as chances de implementação de um projeto desse tipo ainda são pequenas, tanto no Brasil quanto no restante do mundo, mas ressalta que o interesse pelo tema é crescente. Entre os projetos mais conhecidos, estão o Dragonfly, para Nova York, o Living Tower, para a França, o Orchard, para a Austrália, e o Living Skyscraper, para Londres.
Para o arquiteto, o primeiro país que implementar uma fazenda vertical estará na vanguarda em relação a esse tipo de produção urbana, livre dos riscos sofridos pela agricultura tradicional.
Os maiores interessados seriam países populosos e com pequena extensão territorial, como Japão e Holanda. Mas mesmo países com grande área cultivável, como China e EUA, têm de se preparar para um futuro com escassez de alimentos. A perspectiva de que a população mundial tenha um acréscimo de 3 bilhões de pessoas até 2050 é um dos principais argumentos dos defensores das fazendas verticais – o aumento populacional exigiria o incremento de um pedaço de terra cultivável maior do que o Brasil para gerar comida suficiente para alimentar toda essa gente.
– Nesse momento, um projeto como esse serviria muito mais para a implantação de estudos ligados à hidroponia e à logística do processo. Mas temos de agir antes que acabem os meios, para que as próximas gerações tenham acesso ao que sobrou. Os planos só sairão do papel quando houver vontade política e conscientização do poder público e da sociedade – avalia Costa.
Coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCRJ, Fernando Betim entende que a ideia pode ser aplicada em menor escala.
– É uma questão de dimensionar. Em função da necessidade, pode ser um edifício de porte grande ou pequeno – diz.
Os prós da fazenda vertical
– O alimento é plantado, transportado e consumido na mesma região, evitando o desperdício
– Há produção de alimentos durante o ano inteiro
– Tem mais produtividade, pois a safra estará menos sujeita a problemas climáticos como seca, enchentes ou pragas
– Pode-se priorizar o cultivo de alimentos orgânicos, sem uso de herbicidas, pesticidas ou fertilizantes
– Se elimina a contaminação do solo por agrotóxicos
– Ocorre a reurbanização, com o aproveitamento de espaços abandonados ou degradados
– Reduz-se os danos causados pela agricultura ao ambiente
– Há a opção de reflorestar áreas antes utilizadas pela agricultura convencional
– Gera emprego urbano
– Reduz-se o uso de combustíveis fósseis e a emissão de gases poluentes: não são necessários tratores, arados e transporte
– Os defensores da iniciativa estimam que um edifício de 30 andares poderia alimentar até 10 mil pessoas
A produção agrícola na própria cidade
Enquanto ideias visionárias como plantações em prédios de 30 andares não são colocadas em prática, soluções menos imponentes ajudam a consolidar a ideia de que os grandes centros também têm de produzir o alimento necessário para o consumo de seus moradores. A agricultura urbana se vale do solo fértil – rico em resíduos – de terrenos baldios e espaços desocupados das cidades para o cultivo de hortaliças e frutas.
Conforme o professor de agroecologia na Escola Superior de Agronomia da USP Carlos Armênio Khatounian, esses produtos são mais perecíveis e difíceis de transportar por grandes distâncias. Além disso, precisam ser consumidos frescos e têm valor agregado elevado, o que acaba compensando o uso de uma área urbana para o plantio. Cabe ao poder público incentivar esse tipo de produção.
Khatounian cita o exemplo de Piracicaba – município com mais de 300 mil moradores no interior paulista – onde a prefeitura oferece isenção parcial de impostos para áreas ocupadas por hortaliças. A cidade tem mais de 70 hortas urbanas, o que a tornou autossuficiente em hortaliças folhosas, como alface e couve.
O plantio para o consumo individual, como no caso das fazendas de janela, em que as pessoas produzem alimentos nas aberturas dos apartamentos, e os jardins em sacadas também são alternativas conscientes à produção agrícola tradicional. Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUCRS, Márcio Rosa D’Avila acredita que as pequenas práticas são a semente para o debate sobre uma produção em maior escala dentro das cidades.
A questão das fazendas verticais está relacionada ao conceito de como o homem se relaciona com o ambiente. Já temos discussões sobre o cultivo de alimentos em telhados verdes – completa D’Avila.
Fonte: canalrural.com.br
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